Hoje todos têm acesso à educação básica. Hoje até se tornou obrigatória a frequência do ensino básico até aos qinze anos de idade. Mais, hoje pode mesmo ser visitada pela autoridade policial a casa daqueles que não obriguem os seus filhos a ir à escola. A democracia, com todos os defeitos que se lhe vão apontando, tem destas coisas, não é?
Assim não era, como muitos ainda se lembram e outros aprenderam, no chamado tempo da velha senhora. Muitos não chegaram a conhecer a escola da aldeia; outros, por aí passaram de forma tão efémera que nem sentiram o bem que lhes poderia trazer o conhecimento das letras e dos números e o que com eles se pode fazer; outros ainda, não muitos, concluíram a quarta classe e por aí ficaram; finalmente, uma muito pequena parte dessa gente da aldeia, teve esse raro privilégio de dar o salto para a cidade e prosseguir até onde pôde ou quis. A maior parte começava, então, a sua vida "profissonal" muito cedo. Na maior parte das famílias os foihos não eram criados para aprender outra coisa que não fosse o domínio dos utensílios agrícolas, única forma de sustentar a família. E quantos mais braços, melhor.
Não raro, os mais humildes deixavam que os seus pequenos procurassem noutras terras o sustento que não tinham possibilidade de lhes dar. Aí estava um certo proletariado de que não se ouve falar muitas vezes. Aí estava o trabalho infantil que, ao tempo, era não só permitido como aconselhado nas nossas aldeias do interior. A vida era dura, a fome grassava e, desde que houvesse uma malga de caldo para aconchegar o estômago tudo estava bem.
E foi assim que a Águas Frias aportou um verdadeiro Herói. Nascido por volta de 1920 na vizinha aldeia de Tronco, José Joaquim Rodrigues veio, muito novo, para "criado de servir", designação que era dada aqui na terra aos rapazes que deixavam a família para serem "acolhidos" por outra que, a troco duma côdea de pão e de uma malga de caldo, lhes dava trabalho e guarida.
Aqui cresceu o rapaz que se dizia um herói e que ,por isso, ficou conhecido por Zé Herói. E aqui se apaixonou pela bela Inês, que desposou, e com quem criou uma prole imensa. Não gostaria de me enganar, mas julgo ser verdade que a tia Inês pariu catorze, sendo que doze, todos sobrevivos, fazem parte dos bons amigos que daí mantenho: Carlos Manuel, Maria Idália, Sara, Álvaro José, Maria Teresa, Marina, Cândida, Abílio, Ermelinda, Zé Júlio, Edite e Pedro.
Mas do que se trata é do nosso Zé Herói que, depois de cumprido o serviço militar obrigatório, foi colocado como cantoneiro da Estrada Nacional 103, essa mesma que passa por Águas Frias, com uma missão que cumpriu exemplarmente até se reformar. E fê-lo de tal forma que, para além de tapar todos os buraquinhos que iam aparecendo no pavimento, para além de manter as valetas sempre em condições de escoar as águas pluviais, para além de criar, nas bermas que o permitiam, pequenos abrigos para quem circulasse a pé, para além disso tudo, pelo facto de ter sido um dos que puderam passar pelos bancos da escola, procurou manter-se sempre muito actualizado, sendo, por isso, um verdadeiro guia para quem demandava a estrada de que tão bem cuidou toda a vida.
Por ter escolhido a nossa terra para viver e, sobretudo, por ter sido um verdadeiro amigo, não podia deixar de lhe prestar a minha sincera e singela homenagem neste espaço que vou pretendendo dedicar à nossa aldeia e às suas gentes. E a melhor maneira que encontrei para o fazer foi trazendo aqui o seu último legado como cantoneiro. Trata-se de uma construção que ele próprio idealizou, canalizando água até uma fraga (na curva do Salgueiro) e criando na pedra uma gárgula onde, durante muito tempo, tanta gente pôde dessedentar-se. Não sei da ou das razões por que a água deixou de correr nessa bica. A verdade é que, mesmo seca, se mantém como o meu amigo Zé Herói a deixou.
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