Não sei se o S. Pedro deu autorização. Não sei mesmo se alguém se deu ao trabalho de, respeitosamente, o ter informado. Fosse como fosse, na sua eterna bondade não deve ter ficado minimamente aborrecido por os mordomos terem mudado a festa em sua honra de Junho para Agosto.
Águas Frias engalanou-se, então, para presentear a sua diáspora (interna e externa, mas sobretudo esta) com uma festa como há muito não acontecia. E se bem o pensaram, melhor o fizeram. A rapaziada correspondeu e penso não estar longe da verdade se disser que houve uns tantos que terão sido atraídos pela festa, motivo que os trouxe às origens por uma vez mais. O programa era, aliás, aliciante e, talvez pela primeira vez, repartido por três, sim, isso mesmo, três dias de festa.
É claro que os mordomos souberam reunir à sua volta o staff condizente com o evento. Com a humildade que os caracteriza (não foram eles aquafrigidenses de gema) ofereceram a programação do primeiro dia a quem já tem disso algum traquejo, que isto de planificar actividades lúdicas como a recuperação de alguns dos jogos que antigamente se faziam no dia a dia da aldeia tem que se lhe diga. Até as novas tecnologias foram de uma utilidade impressionante e particularmente eficaz. Que o digam o Augusto e a Edite, autênticos animadores socioculturais, que e empenharam todo o seu saber e energias para dar corpo a este aspecto da festa que se constituiu num aspecto particular e interessantíssimo, quer pelo número de participantes, quer por ter atraído muita gente que conseguiu, a par dos que não conheciam os jogos, rever a sua juventude.
Então, para a Edite e o Augusto, aqui fica o meu tributo pelo seu trabalho e pela forma denodada como puseram em prática uma actividade que nos transportou até à nossa adolescência e juventude e que muito contribuiu para que os jovens de hoje soubessem, na prática, como se divertiam os seus progenitores e para que apreendessem esta forma singela de estar na vida e procurem não deixar perder tão importante património imaterial. Obrigado aos dois por um momento único de felicidade que me proporcionaram.
Sábado foi, assim, o primeiro dia dos festejos e aquele em que tiveram lugar os jogos. E quem deu o tiro de partida foi, como não podia deixar de ser, a pequenada. À falta de púcaros de barro (não vivêssemos nós no país do desenrasca), vai de encher uns balões, vendar os olhos aos petizes, armá-los com cabos de vassoura e, ei-los a atacar os balões na tentativa de os rebentar.
Para além de alguns mais azarados terem levado com o pau que se devia dirigir aos balões tudo correu muito bem com os miúdos felizes por terem participado e os espectadores, sobretudo os progenitores, babados com as suas crias.
O jogo que se seguiu é que já não era para qualquer. A rapaziada levou até ao recreio da escola um amieiro com 5 ou 6 metros de altura para o jogo do Pau Ensebado. Como o calor poderia alterar o presunto trataram de encher um saco de palha, que penduraram antes de elevar o tronco na vertical. Com um pedaço de chicha gorda ensebaram-no devidamente e estava agora preparado para os mais audazes. Quem conseguisse subior até ao saco teria direito ao presunto respectivo (parece que foi irmamente distribuido pela malta como mandam os ditames da amizade que une estas gentes).
Candidatos não faltaram. A verdade é que pouco mais de um metro conseguiam subir. O esforço era inglório.
A solução encontrada passou por formar uma equipa que, em pirâmide, lá conseguiu levar o ainda jovem Rogério até ao alvo. Foi a apoteose. Espero que o presunto não lhes tenha feito mal.
Para jogar o fite o número de equipas inscritas foi tão elevado que os organizadores se viram forçados a uma pequena alteração das regras, caso contrário, prolongar-se-ia pela noite dentro, tal foi o interesse que este jogo suscitou nos mais velhos e até nos mais novos. Vejam só a expectativa do Bino após mais um lançamento!
Aqui, o Zé Júlio, em suplesse, acaba de fazer um lançamento. Contudo, a almejada final foi disputada pela equipa do Zé (do ti Américo Barbeiro) e do irmão Marcelino que, com o pássaro na mão, deixaram fugir a vitória final para o Quim Ruço e o Silvestre. Parabens aos vencedores e ao desportivismo dos vencidos.
Domingo, o dia maior, contou com a habitual eucaristia e com a trdicional procissão. Mas, como da festa em honra do padroeiro se tratava, tradição é tradição e, para não se perder, pela calada da noite de sábado para domingo, pé ante pé, a boa da rapaziada pôs pés ao caminho e, tudo quanto era vaso que estivesse nas varandas foi transportado para a Igreja que, desta forma, e com este costume ancestral, fica com uma moldura fantástica e muito característica.
Quatro bem enfeitados andores, seguidos de muito povo, percorreram as principais ruas da aldeia desaguando no ponto de partida, o adro da Igreja Matriz.
Uma curiosidade deveras interessante: a habitual banda de música não se fez ouvir durante a procissão. Foi trocada - e eu digo, muito bem) por uma gaiteirada galega espantosa e espectacular que se deslocou do Carballino, para lá de Ourense, e que nos trouxe uma animação fora do comum que só mesmo os galegos conseguem propiciar.
Cumprida a parte religiosa das festividades, ala que se faz tarde, as mulheres na frente, os homens logo atrás, partiram à procura de casa e dos convidados. O cordeiro e o leitão assados no forno próprio ou do vizinho estavam à espera de estômagos vorazes há muito preparados para a grande farra.
À tarde e à noite, na chamada parte profana dos festejos, aí estiveram dois grupos musicais que animaram novos e velhos e serviram para muitos darem o pé de dança que só acontece de ano a ano.
Hoje todos têm acesso à educação básica. Hoje até se tornou obrigatória a frequência do ensino básico até aos qinze anos de idade. Mais, hoje pode mesmo ser visitada pela autoridade policial a casa daqueles que não obriguem os seus filhos a ir à escola. A democracia, com todos os defeitos que se lhe vão apontando, tem destas coisas, não é?
Assim não era, como muitos ainda se lembram e outros aprenderam, no chamado tempo da velha senhora. Muitos não chegaram a conhecer a escola da aldeia; outros, por aí passaram de forma tão efémera que nem sentiram o bem que lhes poderia trazer o conhecimento das letras e dos números e o que com eles se pode fazer; outros ainda, não muitos, concluíram a quarta classe e por aí ficaram; finalmente, uma muito pequena parte dessa gente da aldeia, teve esse raro privilégio de dar o salto para a cidade e prosseguir até onde pôde ou quis. A maior parte começava, então, a sua vida "profissonal" muito cedo. Na maior parte das famílias os foihos não eram criados para aprender outra coisa que não fosse o domínio dos utensílios agrícolas, única forma de sustentar a família. E quantos mais braços, melhor.
Não raro, os mais humildes deixavam que os seus pequenos procurassem noutras terras o sustento que não tinham possibilidade de lhes dar. Aí estava um certo proletariado de que não se ouve falar muitas vezes. Aí estava o trabalho infantil que, ao tempo, era não só permitido como aconselhado nas nossas aldeias do interior. A vida era dura, a fome grassava e, desde que houvesse uma malga de caldo para aconchegar o estômago tudo estava bem.
E foi assim que a Águas Frias aportou um verdadeiro Herói. Nascido por volta de 1920 na vizinha aldeia de Tronco, José Joaquim Rodrigues veio, muito novo, para "criado de servir", designação que era dada aqui na terra aos rapazes que deixavam a família para serem "acolhidos" por outra que, a troco duma côdea de pão e de uma malga de caldo, lhes dava trabalho e guarida.
Aqui cresceu o rapaz que se dizia um herói e que ,por isso, ficou conhecido por Zé Herói. E aqui se apaixonou pela bela Inês, que desposou, e com quem criou uma prole imensa. Não gostaria de me enganar, mas julgo ser verdade que a tia Inês pariu catorze, sendo que doze, todos sobrevivos, fazem parte dos bons amigos que daí mantenho: Carlos Manuel, Maria Idália, Sara, Álvaro José, Maria Teresa, Marina, Cândida, Abílio, Ermelinda, Zé Júlio, Edite e Pedro.
Mas do que se trata é do nosso Zé Herói que, depois de cumprido o serviço militar obrigatório, foi colocado como cantoneiro da Estrada Nacional 103, essa mesma que passa por Águas Frias, com uma missão que cumpriu exemplarmente até se reformar. E fê-lo de tal forma que, para além de tapar todos os buraquinhos que iam aparecendo no pavimento, para além de manter as valetas sempre em condições de escoar as águas pluviais, para além de criar, nas bermas que o permitiam, pequenos abrigos para quem circulasse a pé, para além disso tudo, pelo facto de ter sido um dos que puderam passar pelos bancos da escola, procurou manter-se sempre muito actualizado, sendo, por isso, um verdadeiro guia para quem demandava a estrada de que tão bem cuidou toda a vida.
Por ter escolhido a nossa terra para viver e, sobretudo, por ter sido um verdadeiro amigo, não podia deixar de lhe prestar a minha sincera e singela homenagem neste espaço que vou pretendendo dedicar à nossa aldeia e às suas gentes. E a melhor maneira que encontrei para o fazer foi trazendo aqui o seu último legado como cantoneiro. Trata-se de uma construção que ele próprio idealizou, canalizando água até uma fraga (na curva do Salgueiro) e criando na pedra uma gárgula onde, durante muito tempo, tanta gente pôde dessedentar-se. Não sei da ou das razões por que a água deixou de correr nessa bica. A verdade é que, mesmo seca, se mantém como o meu amigo Zé Herói a deixou.
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