Está bom de ver que o local onde se ensinaram (felizmente ainda assim acontece!) as primeiras letras e a aritmética aos que nasceram nesta terra ou a ela demandaram em idade propícia não foi sempre este que a fota acima documenta. Com efeito, a escola do antigamente passou, pelo menos, por mais dois edifícios, ambos privados, um deles pertencente ao próprio professor e o mais antigo, também terá pertencido a um dos mestres que a aldeia deu à luz e que, curso completado, aí regressaram para exercer o seu mister.
Mas, ao contrário da grande maioria das escolas erguidas nas mais recônditas aldeias do nosso País durante a ditadura do fascista Oliveira Salazar, as chamadas escola do Centenário, ao contrário das outras, dizia, a nossa escola não tem esse ferrete.
A nossa escola ostenta, ao lado esquerdo da porta principal, sob as respectivas fotografias, o nome de um casal ( Alfredo Soares e Teresa Soares) a quem, habitualmente, é atribuída a construção do edifício, o que, após investigação mais aturada, vim a constatar não ser de todo verdadeiro. Mas já lá vamos.
Um outro aspecto que releva a diferença da nossa para as outras escolas da época tem a ver com a existência de um outro edifício, construído ao lado do primeiro, cuja função foi, durante muitos anos, a de uma cantina que, como a escola, também tem um patrono, neste caso, uma senhora, que dá pelo nome de Matilde Soares de Mesquita e que é, nem mais nem menos que filha do casal que dá o nome à escola.
Um hall exterior com duas entradas permitia que oa estudantes utentes da cantina pudessem aí esperar pela chamada para as refeições, defendendo-se quer do frio das terríveis invernias de antanho quer do calor do verão que por aqui, sempre aperta.
Aqui nas traseiras, o espaço coberto servia para guardar a lenha imprescindível para o funcionamento do fogão e protegia a entrada para a cozinha e para o forno (é claro que aqui também se cozia o pão que a rapaziada necessitada comia todos os dias!), local onde, desde o primeiro dia, trabalhou a minha tia Clotilde e onde permaneceu até à merecida reforma.
Mas, então, o que têm estes nomes a ver com a escola e a cantina? Tudo, diria eu.
O senhor Alfredo de Morais Soares, emigrante no Rio de Janeiro, terá casado com a senhora D. Teresa de Conthins Soares, com quem teve uma filha, a senhora D. Carlota Matilde Soares. Ora, à época, viva também no Rio, o senhor Avelino Ferreira Souto da Motta Mesquita, homem da aldeia de Arnoia, do concelho de Celorico de Basto que, como o nosso conterrâneo, também demandou as terras de Vera Cruz à procura de melhores dias. E se conseguiu melhores dias! A Avelino Mesquita terá corrido tão bem a vida em terras brasileiras que, então já casado com Matilde Soares, granjeou uma comenda que, naturalmente, lhe conferiu o título de comendador. E dele fez bom uso. Após a morte da esposa, por intermédio do aquafrigidense Manuel António Paiva, em Novembro de 1948, fez saber ao presidente da Câmara de Chaves que ofereceria o terreno para a construção de uma escola em Águas Frias e que já tinha doado ao Ministério da Instrução a importância de duzentos contos que se destinavam à instituição de uma cantina escolar, justamente em homenagem à memória da sua falecida esposa, a quem pertencia o terreno. Como o presidente lhe tenha enviado a Acta da sessão de Câmara em que a carta foi transcrita, o comendador Avelino Mesquita, em resposta, não só agradeceu a missiva camarária como aproveitou para informar que para além do terreno, oferecia cento e dez contos para a construção da escola (que seria em homenagem aos sogros) e duzentos contos para a manutenção da cantina.
Á família Morais Soares e ao comendador Avelino Ferreira do Souto Motta Mesquita deemos estar eternamente gratos.
Aproveito para reiterar o que venho a dizer há muitos anos. Ninguém mais do que estes beneméritos tem direito a uma rua com o seu nome. Os poucos que conseguiram esse feito não contribuiram, em termos relativos, com nada que se pareça com o benefício que um estranho nos trouxe. É tempo de se fazer justiça.
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