Quinta-feira, 3 de Junho de 2010

Lampaça II

Prometi que voltaria aqui com a Lampaça e, como gosto de cumprir, cá estou para mais uma pequena incursão por esse bairro quase despovoado que, como referi no post que lhe dediquei anteriormente, já teve uma densidade demográfica impensável.

 

Contígua àquela que outrora foi a casa de Francisco Oliveira (o muito conhecido Feluje) e Clotilde Pires fica uma outra, também em ruinas, que conheci como a casa da minha tia Felisbina (ainda a chamamos assim) e que foi a habitação dos meus bisavós Alexandre e Ofêmea, o primeiro, irmão da Felisbina. Também aí foi criada uma prole imensa e, mais tarde, serviiu de morada a alguns dos meus primos, filhos do meu tio Maximino, cuja casa de habitação era muito próxima desta. Como tantas outras, também foi abandonada ao tempo e, como não poderia deixar de ser, uma boa parte dela não resistiu

 

 

 

 

Como tantas outras, também foi abandonada ao tempo e, como não poderia deixar de ser, uma boa parte dela não resistiu. Algumas paredes foram colapsando e até os sabugueiros encontraram aqui espaço para se reproduzirem.

 

 

Felizmente, continua a haver gente de Águas Frias ou, de alguma forma ligada à aldeia, que mantém essa importantíssima aposta na construção ou reconstrução de casas para férias, para fins de semana, ou mesmo para passar uma boa parte da vida pós reforma. O Abel Costa é um desses heróis. Interessou-se pelo espaço, adquiriu-o e iniciou, imediatamente, a obra. Mas a vida tem vicissitudes com que, muitas vezes, não contamos, e o Abel teve de abdicar do sonho de regressar à aldeia de que tanto gosta. Todavia, perante este impedimento, logo um dos irmãos se interessou em negociar a casa. Vamos, pois, ter mais uma reconstrução e todos ficaremos mais ricos por podermos contar com alguém que ajuda na luta contra o despovoamento e mesmo contra o possível desaparecimento da nossa terra.

 

Mas, voltando à casa que venho descrevendo, vale a pena constatar que, à entrada do pátio,  permanece o antigo forno, que terá sofrido obras de recuperação há uns anos a esta parte pela mão do malogrado Samino.

 

 

 

A casa dos pais da Rosinha do Nel tem frente para o mesmo largo da anterior. Pensar nesta casa faz-me lembrar como há gente que nos obriga a regredir. De facto, temos um governo que tem tomado medidas, umas atrás das outras, sempre a por em causa a nossa região, na tentativa de destruir esta parte do território nacional para que tudo se encaminhe para o litoral, esvaziando-nos de um conjunto de equipamentos que sempre foram considerados fundamentais para quem teima em viver por cá. Uma dessas medidas foi exactamente a que teve a ver com o fecho da maternidade do hospital de Chaves, obrigando asa nossas mulheres a ir parir a Vila Real. E o que acontece? As ambulâncias passaram a ser maternidades ambulantes e os bombeiros parteiras. E tudo isto a propósito da casa da "Tia" Lucinda porquê? Porque foi graças ao auxílio desta grande mulher que eu e tantos outros pudemos nascer, com as condições da época, e sobreviver, uns mais que outros, mas sobreviver. Ela era a parteira que, há sessenta anos, ajudou a minha mãe a parir-me. Hoje, estamos quase de regresso a esse passado.

 

 

Deixo ainda uma foto da entrada das traseiras da casa que, mais tarde, foi habitada por Arnaldo Pires e Marília Lopes e que, actualmente, também é pertença do Abel Costa. A porta que se vê ao fundo é a entrada para o lagar do meu tio Maximino.

 

publicado por riolivre às 23:23
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Domingo, 14 de Março de 2010

Do Souto para a Lampaça

 

 

Despido de fohas e, obviamente, dos ouriços que o caracterizam e que, na altura própria, criam as tão saborosas castanhas, este imponente castanheiro, que cresce por detrás da casa do Quim Ruço, deixa que os nossos olhos alcancem, lá ao fundo, quase todo o bairro da Lampaça. Basta subir ao terraço do Quim para nos deslumbrarmos com a paisagem que, a partir daí, se pode disfrutar.

 

publicado por riolivre às 14:54
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Sábado, 9 de Janeiro de 2010

Água Frias - Lampaça

 

Abordar aqui o Bairro da Lampaça, deixem-me confessar-vos, é para mim uma dor de alma. Contudo, já há muito tempo, talvez um ano ou mais, que por aí deambulei, procurando obter alguns documentos fotográficos que pudessem levar, sobretudo aos que estão lohge e há mais tempo sem visitar a aldeia e, mais ainda, àqueles que aí nasceram, o verdadeiro estado de um pequeno bairro da nossa aldeia que, outrora, acolheu uma população impensável nos dias de hoje.

 

 

Ora, descendo a rua que dá acesso ao bairro, exactamente a Rua da Lampaça, depois de três casas que, embora com bastantes anos de edificação se podem considerar recentes, e logo a seguir à que foi uma das mais bonitas que a aldeia teve (foi reconstruída pelo Felizberto, que a habita) encontramos aquela que, no sentido descendente, seria a segunda casa do bairro.

É com evidente nostalgia que, quando por aqui passo, e faço-o menos vezes do que gostaria, olho a casa onde nasci e onde nasceram e foram criados os meus avós maternos bem como os oito filhos que deitaram ao mundo e sobreviveram. E é doloroso ver como a casa de um dos grandes lavradores da terra, no seu tempo, se transformou, rapidamente, num amontoado de pedras. Não foram algumas intransigências e, seguramente, estaria restaurada e, quanto mais não fosse nas férias, habitada. Mas essa é outra conversa.

 

 

Basta descer mais alguns, poucos, metros, e deparamos com mais uma pequena casa em ruinas. É contígua à dos meus avós. O meu tio Fredo e a minha tia Clotilde viveram aqui uma boa parte da sua vida e aqui tiveram e criaram os três filhos. Só mais tarde, construída a nova casa a abandonaram. Não sei se passou pelas mãos de mais alguém, mas lembro que um dos proprietários seguintes foi o Nuno. Depois. bem... depois, acabou no estado que se pode ver.

 

 

 

No chamado largo da Lampaça o ambiente não é diferente. Esta é a casa que foi da família de Francisco (O Feluje) e Clotide Oliveira. Também neste espaço, não muito grande, criaram a sua imensa prole de mais de dez filhos que, vivendo humildemente e comendo o pão que o diabo amassou, lutaram pela vida, uns por cá, outros pelo Brasil e, a pulso, mostram como se pode transformar a vida penosa da infância e da juventude numa vida de bem estar. Honra lhes seja feita.

Aqui mesmo ao lado, na entrada para uma outra casa de que também já só há ruinas, durante as horas da sesta, muitas vezes depois de um banho na poça dos Intilhais, juntávamos um enorme grupo de rapazes que, quase diariamente, se divertia a jogar as "formas". Quem não gostava muito eram as nossas mães. É que os botões de roupa que apanhássemos à mão de semear estavam naturalmente destinados a ir a jogo.

 

Voltarei à Lampaça para mais uma incursão neste interessante bairo da nossa aldeia que, salva muito poucas excepções, apresenta o estado que podeis constatar.

 

Até breve.

 

 

 

publicado por riolivre às 23:06
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Domingo, 12 de Julho de 2009

Águas Frias - O "meu" Lagar

Não se pode dizer que Águas Frias tivesse sido, alguma vez, uma terra onde se produzisse muito vinho. E infelizmente, se tivermos em conta os actuais padrões de consumo, também não podemos gabarnos de por estas bandas se ter conseguido algum vinho de grande qualidade. Ainda assim, as nossas terras sempre nod foram brindando com umas pingas que não só nos aqueciam a alma como serviam para convidar os amigos à nossa adega. Era, aliás, em tantos casos, a verdadeira sala de visitas de cada um. E que grandes cavaqueiras e mesmo animação se faziam outrora nas nossa bem cuidadas adegas!

 

Afinal, cada qual gabava-se de ter colhido a melhor pinga e, mesmo nas situações em que não seria mesmo de muita qualidade, ninguém recusava um copinho na adega do amigo ou do vizinho. Ah, então e quando aparecia um qualquer forasteiro que pretendia namorar uma das nossas meninas! a malta não se fazia rogada e depressa se juntava (ao domingo, claro) na taberna da Tia Adélia ou no comércio de Cimo de Vila (na altura do meu pai) para beber a remeia que o tanço tinha que pagar.

 

Este pequeno intróito serviu tão só para trazer aqui uma pérola que, até agora, consegui manter minimamente preservada. Digo até agora, porque a propriedade deixou de nos pertencer. Trata-se de um lagar da minha família que, contra algumas vontades, arrisquei manter com o formato original. Tinha pensado mesmo em musealisá-lo. O facto de ter deixado de viver em Chaves dificultou a minha pretensão e, agora, tudo está na mão do Abel Costa que, como me prometeu, não vai abndaná-lo, com toda a certeza.

 

O lagar fazia parte da casa dos meus bisavós, na Lampaça, e situa-se exactamente por detrás da moradia. foi construido com quatro pedras de granito (inteiras, como se designam aqui na aldeia) assentes, elas próprias, sobre uma fraga. Tendo em conta a inscrição que ainda é bem visível na porta de entrada, a construção data de meados do século XIX. Nada impede que, apesar disso, ela não possa ser anterior. De todo em todo, este tipo de lagar, de varas para os mais eruditos e de TRAVE para nós, é descrito pelos historiadores como dessa época.

 

 

As uvas eram pisadas (quantas horas aí passei!) e, passados alguns dias (entrementes tinha que se BAIXAR A CORTIÇA), abria-se o bocal do lagar para que o precioso néctar corresse para uma lagareta, também de pedra, que lhe é adjacente, embora num plano inferior. Inicialmente, como a adega dos meus bisavós se situava ao lado, num plano, também, inferior, o vinho era canalizado, através da parede, para aspipas que se encontravam do outro lado. Com as partilhas, as más partilhas que sempre acontecem quando se dividem as heranças, o lagar ficou para o meu avô e a adega para o meu tio Maximino. Houve que mudar de atitude. O vinho passou a ser retirado da lagareta com o auxilio de cântaros que o transportavam até às pipas. Durante anos viajava, à cabeça das mulheres, até Cimo de Vila ou até ao Casal. Ultimamente, colocaram-se as vasilhas junto ao lagar que passou a servir, também de adega.

 

 

 

Finalmente, retirado o vinho, era preciso espremer o bagaço que cobria o fundo do lagar. E aqui está o que dá importância a  este equipamento. Conheci mais dois ou três semelhantes. Contudo, os proprietários, nuns casos, deixaram-nos ao abandono, perdendo todo o valor histórico que hoje lhes poderíamos dar; noutras situações, justamente por não terem alternativa e pretenderem modernizar os procedimentos da elaboração do vinho, transformaram-nos, com a introdução de prensas mais modernas e mais fáceis de manejar.

Este é, portanto, o único exemplar que, na aldeia, mantém a chamada TRAVE, com o respectivo FUSO e o PESO, a pedra que era preciso fazer rodar para apertar o fuso na trave, onrigando esta a descer com o seu peso sobre as tábuas que se colocavam sobre o bagaço, espremendo-o de tal forma que, quanto mais seco ficasse, melhor aguardente iria produzir.

 

O "meu" lagar é agora pertença do meu bom amigo Abel Costa. Não tenho dúvida que o Abel vai preservar essa jóia do nosso património. Mas lanço aqui um repto à Junta de Freguesia, qual é o de, assumir o lagar como património de interesse local e ajudar na reconstrução do edifício que o acolhe.

 

 

 

 

 

publicado por riolivre às 18:18
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Sexta-feira, 6 de Março de 2009

Águas Frias - Tanque da Lampaça

Como não vou à aldeia tantas vezes quanto desejaria, e como também não permaneço aí enquanto me apetece, tenho que fazer sempre opções em relação à ocupação do espaço temporal que me é dado estar por lá. Dito de outra forma, nem sempre se pode estar com a família e com os amigos e, ao mesmo tempo, respirar o excelente ar que, por enquanto, se mantém bem longe dos grandes poluidores.

Mas, numa das últimas tardes de domingo que aí passei, decidi desfrutar de um passeio que muito me apraz: ir até ao Rabaçal, passar por Surribas, entrar na Regada e nos Olmos e, subindo a rua da Lampaça, regressar a casa dos "velhotes", não sem que prazerosamente vá parando aqui e ali para uma conversinha com aqueles (poucos) com quem me vou cruzando.

Termino esta etapa como que rejuvenescido, sobretudo porque, ao chegar, sinto que dou mais um pouco de felicidade ao meu Pai. É verdade, ele gosta muito que eu dê uma volta pelas suas poulas.

Desta feita, contudo, fui surpreendido por uma intervenção que, no mínimo, é de muito mau gosto. Mesmo no fundo do bairro da Lampaça, onde havia uma antiga fonte e um tanque que, durante uma vida inteira, dessedentou quantos animais por ali passavam diariamente, sobretudo no regresso dos lameiros que os alimentavam, deparei com um espaço agora cheio de entulho. Confesso que senti uma verdadeira sensação de perda. Como teria sido possível aquela brusca e brutal transformação? E quem teria sido o mentor de tamanha asneira?

Subia a rua com estas interrogações e logo encontrei alguém que não se fez rogado e rapidamente me deu conta do bom trabalho que a Junta de Freguesia estaria a levar a cabo. Que em vez de um tanque que já não servia para nada surgiria um largo. Que também teria havido alguma pressão para o efeito por parte do actual proprietário da que foi a casa de família do Sr. Acácio.

Já não tive tempo para contactar o presidente da Junta. Quero crer que não terá ponderado séria e sensatamente a decisão que o levou a destruir uma parte do património local. Bem sei que o tanque estava abandonado há muitos anos. Nem por isso se pode justificar acção lesiva da nossa cultura como a que ousou praticar. Se, antes de decidir, tem consultado as pessoas da terra (também os não residentes), certamente teria tido oportunidade de tomar uma decisão de tipo diferente, qual seris a de mandar limpar o espaço e dar-lhe a dignidade que, de facto, merecia. Assim não entendeu. Assim se perdeu mais um aspecto do espólio da nossa aldeia. E não é a primeira vez que assim se procede. todos estamos lembrados da asneira que outro presidente cometeu com o Tanque da Igreja. O problema é que há decisões que são irreversíveis, e esta, infelizmente, é mais uma.

Para a posteridade, aqui ficam dois documentos fotográficos do tanque tal qual se encontrava no verão de 2008.

 

 

 

Meus caros conterrâneos, ajudem a rpomover a preservação do nosso património. Não permitam que se destrua impunemente. Aos descencentes das nossa gentes será impedido o conhecimento da história da aldeia de que tanto gostamos. Dêmos-lhes esse direito.

 

sinto-me: Muito triste
publicado por riolivre às 16:56
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