Domingo, 13 de Dezembro de 2009

Águas Frias - Talhinhas

Devo confessar que me dá um prazer muito especial poder calcorrear os caminhos que, desde a aldeia, nos conduzem por esse imenso termo que os nossos antepassados, uns mais próximos que outros, trabalharam a pulso, e que hoje se vai encontrando cada vez mais abandonado. Os braços vão escasseando ou, pior que isso, vão-se cingindo aos velhos resistentes que ainda permanecem na terra e, obviamente, a natureza toma, definitivamente, conta daquilo que outrora havia sido humanizado. Mas, começava por dizer que gosto de andar a pé por aí fora para justificar que, desta feita, tive a especialíssima companhia do meu pai que, com os seus quase noventa anos, já não se atreve a passeios muito grandes e, por isso mesmo, exige transporte adequado.

 

A ideia era ir até à Mornegra para, depois de mais de trinta anos, voltar a subir ao morro das Talhinhas. Chegados ao ribeiro, que esperava pelo inverno para voltar a sentir o aconchego da água que o enche, tive a primeira surpresa: aquele que tinha sido o lameiro da minha avó não passava agora e um espaço densamente povoado por amieiros, carvalhos, giestas e, sobretudo, silvas que, como se sabe, gostam muito dos sítios que o homem vai deixando ao abandono.

 

Entrámos pela rodeira, também ela cada vez menos transitável e, logo ali uma clareira que o Moisés criou ao proceder ao cortre de giestas que, certamente, vieram a servir para o aquecimento e, por que não, para acender o forno onde se coze o excelente pão e os não menos excelentes folares mas, também, onde se assam carnes para granes pitéus. Só a partir daí se começou a avistar o morro que estava nas nossas cogitações, as talhinhas, estavam, enfim, à nossa frente, imponentes, lá no alto.

 

 

A partir daqui era cada vez mais difícil avançar monte acima. Aqui e ali surgia um carreirão de caçador ou de algum bicho maior que rapidamente se perdia na vegetação cada vez mais densa de carvalhos e, sobretudo de urzes que era necessário ir pisando para avançar mais alguns metros. E como ia rememorando esses tempos da minha meninice e as vezes que por aqui andei quando, com o Manuel do tio Antero, guardávamos os bois no lameiro. A custo, a aproximação ao objectivo ia-se fazendo. O prazer superava qualquer tipo de cansaço. Estava já muito perto e, nalguns períodos do percurso, só por entre essas grandes urzes de mais de dois metros de altura conseguia visar a fraga.

 

 

Um pouco mais e aí está, imponente, o morro das Talhinhas.

 

 

Finalmente, a conquista do objectivo. Cá em cima, para além das recordações de tantas brincadeiras, a possibilidade de rever aquilo que dá o nome ao local, isto é, a talha que este enorme fragão mantém no seu ventre. Só que aqui chegado, o "guerrreiro" já não se sentiu capaz de, sozinho, fazer a descida ao local. É que ainda não esqueci essa vez em que o Manuel deceu e, para sair, foi uma grande chatice. Mas esta frustração há ser certamente superada numa outra oportunidade. Fica um aspecto dos efeitos que a erosão de milhões de anos tem provocado na parte superior deste enorme afloramento granítico que se pode avistar de qualquer lugar da nossa aldeia.

 

 

E este, de um ângulo que nos permite ver, lá ao fundo, o marco geodésico dos Estalinhos, já no termo dos nossos vizinhos de Paradela.

 

 

publicado por riolivre às 18:39
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